5 de outubro de 2015

2 descobertas interessantes

 


"Os avanços na área da neurociência são fascinantes e o cérebro é, de facto, de uma complexidade sem paralelo. Vou partilhar com vocês dois tópicos que me impressionaram neste últimos tempos.

O primeiro relaciona-se com os correlatos neurais da adversidade precoce. No fundo, algo que nenhum “psiquiatra moderno” quer admitir, parece que o Freud lá tinha alguma razão na sua teoria… experiências traumáticas precoces (adversidades como falta de afeto, pobreza, elevado stress familiar) levam a uma reconfiguração permanente do cérebro, com alteração da expressão genética, que se mantém ao longo da vida e que perante futuros fatores de stress (por ex: desemprego, desilusão amorosa, consumo de substâncias) pode levar ao aparecimento de problemas de saúde mental. E isto é algo que se vê com técnicas muito avançadas de neuroimagem! Uma das coisas que Tallie Baram e os seus colegas da universidade da Califórnia descobriram é que os principais fatores que levam a esta vulnerabilidade acrescida são os comportamentos dos cuidadores imprevisíveis e fragmentados. Portanto para proteger o cérebro das nossas crianças é mesmo necessário que hajam rotinas e que haja tempo dos pais (cuidadores) para estar emocionalmente com os filhos. Só assim se pode evitar a imprevisibilidade e a fragmentação que podem levar a consequências severas no futuro.


Quando dizem que a culpa é da "mãe", talvez haja afinal alguma razão nisso.

O segundo relaciona-se com as evidências cada vez mais contundentes que a depressão não é apenas uma doença relacionada com disfunção dos neurotransmissores (por exemplo: a serotonina), mas que tudo aponta para que tenha um elevado componente inflamatório. Sim, esse mesmo mecanismo responsável pelos nossos sintomas quando estamos constipados ou que leva ao combate de uma infecção na pele, quando ocorre de forma desregulada pode ser responsável (através de vários mecanismos altamente complexos) por lesões de células neuronais em áreas chave. Verificou-se que as pessoas com mais resistência ao tratamento antidepressivo têm maiores níveis de marcadores inflamatórios... e isto poderá trazer uma abordagem totalmente diferente e inovadora do tratamento das depressões resistentes. Para além de explicar algo que se vê muito na prática clinica, que é a associação entre depressão e várias doenças autoimunes, assim como ajudar a explicar porque razão existem tantos sintomas “físicos” para algo que se passa no cérebro.


Já há muito tempo que percebi que o tratamento da depressão não passa pelos antidepressivos e que há outras formas de combate muito mais interessantes e vantajosas, nomeadamente a alimentação anti inflamatória (essencialmente crua e biológica) e o exercício físico. As mentalidades mudam, devagar, mas mudam!

2 comentários:

  1. alimentação anti-inflamatória? Podes dar mais informações sobre isso?

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  2. A inflamação é um processo natural do nosso organismo face a uma ameaça, um traumatismo ou infecção. Há alimentos que potenciam a inflamação, denominados pro inflamatórios, de que fazem parte os alimentos industrializados e refinados, a manteiga, carnes vermelhas, leites e seus derivados, soja, refrigerantes, entre muitos outros presentes na alimentação ocidental, responsáveis por várias doenças: diabetes, alzheimer, obesidade, auto imunes, cancro e depressão, por exemplo. Em sentido inverso, temos os alimentos anti inflamatórios que fortalecem o sistema imunitário e tornam alcalino o ph do corpo. Estão entre estes alimentos as frutas e vegetais, essencialmente se forem consumidos crus. Há um estilo de vida, o crudivorismo, que tem tido grande sucesso no combate a algumas maleitas actuais.

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