11 de junho de 2015

A montanha russa do humor


Há dias em que acordo eufórica, exultante de alegria e ânimo e adoro. Sinto-me feliz, realizada, capaz de tudo e consigo mesmo realizar uma série de tarefas consecutivas como se tudo fluísse naturalmente, sem grande esforço. Parece que posso fazer tudo o que quiser e que tudo é possível.
Mas também há um inverso, dias em que o desânimo me invade, que a energia está abaixo de zero, que me sinto infeliz e tudo o que tento fazer me parece demasiado penoso para ser concluído. A minha produção diminuí drasticamente e sinto-me uma inútil sem préstimo. Serei bipolar?

Esta foi a descrição e a pergunta de uma doente na última consulta e acho que haverá muita gente que me lê com essa mesma dúvida. Serão estas oscilações de humor patológicas e indicadores que algo grave se passa ou serão apenas altos e baixos normais que qualquer pessoa sente e que a eles se tem de adaptar? É claro que não conseguimos manter sempre o mesmo nível de motivação, entrega e entusiasmo e quando sofremos algum revés temos tendência a esmorecer e abrandar o ritmo e isso nada tem de patológico. São apenas pequenas oscilações de humor, normais e adaptativas de que precisamos para avançar. Aparecem normalmente quando nos deparamos com obstáculos que nos impedem de alcançar os objectivos que tínhamos anteriormente determinado e a nossa força interior mede-se também pela capacidade que demonstramos face a essas contrariedades e à forma como lidamos com elas. Aceitar as coisas como são e mudar a nossa percepção é o melhor caminho. Temos de nos recordar que não controlamos a vida nem as pessoas que nos cercam, o que podemos e devemos controlar é a forma como encaramos as situações. Esse é o único controlo que temos.

Para que percebam melhor o que vos quero transmitir, deixo-vos com um pequeno texto retirado do livro de Jorge Bucay

O rei bipolar

Era uma vez um rei muito bom e poderoso que morava em um país distante. Mas ele tinha um problema: suas duas personalidades.
Havia dias em que se levantava exultante, eufórico, feliz, e tudo lhe parecia maravilhoso. Achava os jardins de seu palácio ainda mais bonitos. Nessas manhãs, por alguma estranha razão, seus servos eram amáveis e eficientes.
Durante o desjejum, o rei afirmava que no seu reino eram fabricadas as melhores farinhas e colhidos os frutos mais saborosos.
Naqueles dias, o monarca reduzia os impostos, repartia riquezas, concedia favores e legislava pela paz e pelo bem-estar dos anciãos.
Além disso, realizava todos os pedidos dos súditos e amigos. Mas também havia os “outros dias”.
Eram dias negros. Ele acordava achando que deveria ter dormido um pouco mais, porém já era tarde e o sono o abandonara.
Apesar do esforço, não compreendia por que seus servos estavam tão mal-humorados nem por que o serviço estava tão ruim. O sol o incomodava mais do que a chuva. Achava a comida sem graça e o café, frio. A ideia de receber pessoas piorava ainda mais sua dor de cabeça.
Nesses dias, o rei pensava nos compromissos que havia assumido e em como conseguiria cumpri-los. Ele tornava a aumentar os impostos, confiscava terras, prendia seus opositores… Temeroso do futuro e do presente, perseguido pelos erros do passado, o rei voltava-se contra o povo e a palavra que mais usava era NÃO.
Consciente dos problemas causados por essas alterações de humor, o rei chamou todos os sábios, magos e assessores do reino para uma reunião.
– Senhores, todos vocês conhecem minhas mudanças de humor. Todos têm sido beneficiados pelos meus momentos de euforia e têm padecido com meus desgostos. Mas quem é mais prejudicado sou eu mesmo, que a cada dia desfaço o que já fiz, pois vejo as coisas de um modo diferente. Necessito que vocês trabalhem juntos para conseguir um remédio, uma poção mágica ou um encanto que me ajude a não ser tão absurdamente otimista que não enxergue os fatos nem tão ridiculamente pessimista que oprima e prejudique aqueles de quem eu gosto.
Os sábios aceitaram o desafio e trabalharam na tarefa durante várias semanas.
Porém, apesar de todos os feitiços e de todas as ervas, não encontraram solução e admitiram o fracasso.
Nessa noite, o rei chorou.
Na manhã seguinte, apareceu um estranho visitante pedindo um encontro com o rei. Era um misterioso homem de pele escura vestindo uma túnica puída que algum dia havia sido branca.
– Majestade – disse o homem, fazendo uma reverência –, venho de um lugar onde se fala dos vossos males e da vossa dor. Trago o remédio de que Vossa Majestade precisa. – Inclinando a cabeça, entregou ao rei uma caixinha de couro.
O rei, entre surpreso e esperançoso, abriu a caixa. Nela havia um anel prateado.
– Todas as manhãs, assim que vos levantardes, deveis ler a inscrição do anel e lembrar-se dessas palavras cada vez que o virdes em vosso dedo.
O rei pegou o anel e leu em voz alta:
 ISTO também passará.


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