2 de março de 2015

O sofrimento escondido


A semana passada duas noticias abordavam esta realidade do sofrimento em silêncio, escondido do mundo, de um lado por vergonha e medo do outro por incompreensão da sociedade.

A primeira, sobre o suicídio da Dra. Tutti Frutti, da operação Nariz Vermelho, a actriz Maria Zamora, incide, uma vez mais, sobre a violência doméstica. Parece que a actriz já tinha feito queixa na policia e tinha mesmo uma ordem de restrição em relação a um ex namorado que, aparentemente a atormentava com perseguições e ameaças várias que a impediam de viver na sua própria casa, encontrando-se a viver em casa de amigas para fugir a esse pesadelo. Pelos vistos, o tormento foi demasiado e a Maria não aguentou a pressão, tendo o suicídio como solução.
É pena que as mulheres ainda tenham de viver estas situações escondidas. É pena que a Maria não tenha falado publicamente sobre o assunto e não tenha tido o apoio e o conforto que merecia. É pena que estes monstros continuem a fazer uma vida normal, como se nada fosse, e as suas vitimas se vejam de tal forma encurraladas e sem saída que apenas consigam vislumbrar uma solução limite. E depois chamam-lhe amor. Qual amor, qual carapuça. Quem ama cuida não magoa.


A segunda, sobre a petição lançada pela Associação Projecto Artémis (A-PA) é a criação de um Dia Nacional para a Sensibilização da Perda Gestacional - a ser comemorado a 15 de Outubro.
A perda gestacional é uma situação de dor brutal para quem a vive e de aparente não compreensão por parte de todos os outros, que não a aceitam como aquilo que é, a perda de um filho. Quem a sofre não encontra nem nos amigos nem na família e muito menos na sociedade a solidariedade devida. É uma dor menosprezada, diminuída, porque se refere a um ser que ainda não nasceu. É normal as pessoas desvalorizarem o que a mulher está a passar com palavras do tipo "deixa lá, depois arranjas outro" ou "antes agora do que depois". A mulher sente que não tem espaço para fazer o luto, acaba por esconder o sofrimento e vivê-lo sozinha, sem qualquer apoio. Esta ideia de se criar um dia nacional para a sensibilização da perda gestacional pode ser o inicio de um espaço de partilha para as mães em luto e de mudança de mentalidades para todos os outros.


1 comentário:

  1. Quanto à primeira, a lei deveria ser mais dura, mais célere, e não devíamos todos enfiar a cabeça na areia, como muitas vezes acontece. Neste caso em particular, como é possível que o indivíduo em causa tenha tido a possibilidade de continuar a ameaçar? Como é que ele ainda lhe tinha acesso a ela? Como é possível que esta mulher não tenha tido apoio policial, já que a ordem de restrição de nada valia? Como é possível que se leve uma pessoa ao suicídio e não seja culpabilizado?
    Quanto à segunda, e por experiência própria, creio que a angústia fica cá sempre, assim como fica a eterna questão do porquê. Tentamos convencer-nos que se calhar "foi melhor assim"... "é porque não tinha de ser" . A iniciativa da criação do dia para assinalar essa perda é interessante, pode ser que ajude alguém, mas creio que não é por falta desse dia que a dor é maior ou menor. Parabéns pelos temas ;-)

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