17 de março de 2015

Carta aberta a alguém



Naquele dia vi a desilusão no teu olhar e confirmei-a com as palavras que se seguiram - fico tão triste porque ninguém se interessa, ... ninguém está interessado em ler nada ...em acompanhar nada. 
Foram palavras que saíram do fundo do coração e a tristeza que traziam era quase palpável e eu fiquei também profundamente triste pela desilusão causada.
Antes, há muito tempo atrás, conseguia ler no teu olhar promessas mudas e esperança de um orgulho. Nunca o expressaste e por isso apenas o intuí, mas nunca antes a descrença e a desilusão foram tão grande. 

Quando te sentes assim triste eu também o sinto, quase como que por osmose. Triste porque não sou o que querias que fosse. Triste porque nunca ouvi da tua boca as palavras que mais desejei ouvir um dia, de uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Esperei tanto por essas palavras e elas não chegaram nunca. Agora já desisti delas. Aprendi a viver sem elas, mas doeu durante muito tempo ver o desencanto no teu olhar. Quiseste tanto que seguisse determinado caminho e não aceitaste que não o fizesse. Os filhos, esses seres independentes, com vontade e sentimentos próprios, com sonhos, têm o condão de não fazerem o que queremos que façam. Sinto que nunca procuraste ver para além do óbvio, nunca procuraste saber a verdadeira motivação.

Fico triste com a tua tristeza. Sinto-me triste porque a vida nos afastou e não tive tempo de te explicar tanta coisa que queria. Não tive tempo de te dizer que ser mãe e mulher me completa. Que os meus filhos foram todos muito desejados e que por eles sacrifiquei muita coisa, inclusive alguns dos sonhos que tinha, mas vê-los crescer de perto é algo que me enche de orgulho porque tenho a certeza que alguma coisa estou a fazer bem feito. Sempre soube que os filhos não são uma extensão dos pais, os filhos não devem ser projectos dos pais, os filhos são diferentes de nós, diferentes do que queríamos para eles e isso não os faz melhor ou piores, apenas diferentes das expectativas criadas. Quereres que seja igual a ti não é justo.Quereres que eu queira o mesmo que tu é algo que não acontecerá para minha/ nossa infelicidade. 

Não me julgo menos por ser quem sou e penso que consegui muita coisa importante. Sou boa no que faço e no que gosto e não percebo tanta desilusão. Para ti, nunca fui suficiente. Nunca fui suficientemente boa, suficientemente capaz, suficientemente inteligente, suficientemente motivada, suficientemente  trabalhadora, etc, o rol é infindável. Mas vou contar-te um segredo, fiz muitas coisas boas das quais me orgulho. Sobrevivi a muitas dores ao longo do meu percurso e cresci e amadureci e isso faz-me valorizar coisas menores que a ti nada dizem. Foste sempre pedra basilar, apoio e conforto e é uma dor imensa não ter conseguido dar-te o que precisavas e ser quem querias que fosse, mas estou feliz em ser quem sou.

 

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