16 de outubro de 2014

Saudade que dói

 

Quando se perde alguém por morte ou separação toda a gente à volta espera que a dor que se sente seja uma dor momentânea, que se chore ou fique triste durante um tempo e depois deve-se continuar a viver. Parece que não há espaço para a tristeza, para a saudade, para a dor porque isso incomoda demais quem está por perto.

Quando se tem de continuar a viver sem aquela pessoa a dor é enorme porque ela era importante. É uma dor que dilacera a cabeça e o coração, que deixa a alma vazia e a vida sem sentido. A cabeça esvazia-se de tudo numa vã tentativa de se esvaziar da dor, os pensamentos aceleram as lembranças que não se quer ter mas que aparecem uma e outra vez como se passassem em repeat indefinidamente.

Os olhos, que primeiro choram e choram e choram depois, já secos de tanto sofrimento, só conseguem mostrar uma nuvem cinzenta que há-de ficar para sempre, uma cortina que se mantém, uma tristeza óbvia para quem souber ver.

Primeiro são as perguntas, as dúvidas, a zanga, a raiva, o desespero, depois... bem, depois fica a dor sem fim, sem sentido sem remédio. Às vezes as pessoas tentam anulá-la, não a querem sentir, e tomam uns comprimidos ou trabalham sem parar ou dedicam-se a um período de louco divertimento, mas nada disso resolve, nada disso cura nada, apenas adormece o sentir.

Depois o tempo passa e fica a saudade .... e a dor, sempre a dor! A vida chama por nós, o trabalho reclama a nossa presença, os filhos, os sobreviventes esperam de nós vida e riso e alegria e acompanhamento e nós, que morremos um pouco reagimos e, dia após dia, vivemos no limiar com a loucura, mas vivemos, respiramos, comemos, dormimos e, pouco a pouco, descobrimos que ninguém mais se lembra ninguém mais se importa e aprendemos a disfarçar a dor e a saudade e reaprendemos a viver na esperança de que um dia a dor seja menos intensa e a vida nos resgate e nos obrigue a reagir e, mais tarde, descobrimos que a dor afinal é agridoce.

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