19 de agosto de 2014

Pensar é muito incómodo

 

Um leitor muito querido deste nosso espaço enviou-me este artigo que fala sobre a dificuldade que a maioria das pessoas sente quando lhes é pedido que fiquem numa sala sozinhos, sem qualquer tipo de distração, durante 15 minutos e durante esse período de tempo devem pensar no que quiserem. Como gostei tanto dele, resolvi partilhá-lo convosco.

A capacidade de abstração e pensamento é exclusiva dos seres humanos mas cada vez parece que gostamos menos de a exercitar sendo inclusivamente descrita como desagradável pela maioria dos participantes do estudo, chegando mesmo ao extremo de preferirem auto punir-se com choques eléctricos em vez de apenas pensarem, quando têm ambas as alternativas ao dispor.

A descoberta de que a aversão a estar sozinho com os pensamentos foi a mais surpreendente, explicou ao i Erin Westgate, uma das autoras. A investigação visa tentar estudar porque é que parece ser tão difícil pensar e, por outro lado, porque é que há pessoas que lidam melhor com a experiência.

E aqui, os resultados mostram que ainda há muito por perceber. Uma das teorias seria que as pessoas, ao ficarem sozinhas com os seus pensamentos, poderiam começar a "ruminar" sobre os seus defeitos, o que explicaria o desconforto. Mas, ao testar a ideia, a equipa percebeu que pensar em si próprio não estava correlacionado com mais ou menos satisfação. Outro problema poderia ser terem de pensar no próprio momento em como iriam ocupar a cabeça. Porém, quando deram tempo para planear, os resultados não se alteraram.

A única ligação que, para já, dá pistas tem a ver com o tipo de personalidade dos participantes, mas ainda assim as correlações encontradas foram limitadas. Após testes psicológicos, perceberam apenas que quem consegue direccionar os pensamentos para sentimentos de felicidade tem 20% mais probabilidade de encontrar prazer na experiência.

Erin Westgate conta que avaliaram também se usar mais ou menos o telemóvel no dia-a-dia tinha alguma correlação com a capacidade de desfrutar do devaneio mental, o que também não se verificou. O que leva a outra conclusão do estudo: "O uso parece ser um sintoma de um problema, não a causa. Talvez os telemóveis e as redes sociais sejam tão apelativos precisamente porque somos tão maus a entretermo-nos com as nossas cabeças. Se algumas pessoas até preferem electrocutar- -se, obviamente que a maioria de nós prefere mexer no telemóvel a pensar."

A investigadora acredita que estamos perante um problema, que não sendo novo está a aumentar e só agora começa a ser estudado: "Dantes havia outras distracções. Ao longo dos séculos, líderes religiosos têm pedido às pessoas para passarem mais tempo em contemplação e silêncio: se fosse fácil aderir a isso, não estaríamos sempre a ouvir a mensagem."

A ideia do grupo é conseguir respostas e encontrar uma forma de treino que permita contrariar o que parece ser a dificuldade natural de desfrutar do pensamento. Enquanto não há novas experiências, Westgaste explica, qualquer adulto pode fazer a experiência em casa. Desde que, por precaução, substitua os choques eléctricos por algo mais inofensivo: uma fotografia desagradável ou uma gravação de um barulho enervante.

Basta escolher um momento do dia em que se esteja sozinho, ir para um corredor sem decoração e deixar todos os bens pessoais, dos telefones ao relógio, na sala ao lado. Se conseguir estar 12 minutos sozinho sem olhar para a fotografia ou ligar o som e apreciar a experiência faz parte de uma minoria. A mente do comum dos mortais, concluí a equipa, "se não for disciplinada não gosta de estar sozinha com ela própria."


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